Qto. mais me afasto

 

mesmo a manhã
de maio desmaiando
pelo asfalto
mesmo o champagne
acima das sete quedas
mesmo o som das trubrinas
sobrevoando o sono
 
quanto mais me afasto
mais de você eu gosto
 
em blumenau, o frio
casinhas alemãs
sobre o vale do itajaí
 
qto mais
mais de v.
 
e já ali em itajaí
e já ali ligado
rio-mar-verão
camboriú & co.
 
quanto mais me afasto
mais de você eu gosto
 
castanha-de-caju
cera-de-carnaúba
sob o céu azul
 
qto. mais
mais de v.
 
na praia do futuro
em boa viagem
na mariscal lópez
 
qto. mais
mais de v.
 
um cheiro de mar
espera & esperma
mareando o mercado
dendê sarapatel & saravás
saltando das 7 portas da bahia
 
quanto mais me afasto
mais de você eu gosto
 
mesmo assim
mesmo a mesmidão
do minhocão
 
mesmo a mesmice
a média-luz
de um cabaré qualquer
 
mesmo o uísque mesmo
até mesmo o de assunção
a nos deixar lassos
mesmo-mesmo o não-sei-não
de gozos tímidos-esparsos
 
quanto mais me afasto
mais de você eu gosto
 
mesmo sob o crepúsculo
science-fiction
do planalto central
mesmo abrigado
sob a copa
& capa de sex-árvores
enlaçando goiânia
goianas & pés-de-cana
 
quanto mais me afasto
mais de você eu gosto
 
mesmo mesmo mesmo
a ternura do rio
ainda a mesma água
alisando as ancas
da cidad’eu menino
 
quanto mais me afasto
mais de você eu gosto
 
quanto mais me afasto
quanto mais me afasto
mais
mais
               rio de janeiro
      sinto
quanto
               de você eu gosto.
 

 

Ronaldo Werneck
Assunção, julho de 1977
de Tempos de MIneração, inédito